quarta-feira, abril 08, 2009

Racismo

Hoje fui a uma esplanada que costumo frequentar, na zona in de Telheiras. Não vou por ser in, claro está, vou porque é perto de casa e é porreira. Parei o carro mesmo em frente, e lá fui para a mesa costumeira, com um café quentinho a dar uma ajuda ao sol que pouco aquecia. Entretanto, pára ao lado do meu carro um Audi todo XPTO, tão novo que a matrícula quase era do mês que vem, e saem três respeitáveis senhoras na casa dos quarenta, que se sentam na mesa ao lado da minha em amena cavaqueira. Isto calculo eu, que o Rod Stewart estava a cantar nos meus ouvidos. Parei por breves segundos a observá-las. Bem vestidas e penteadas, e uma delas, pasme-se!, trazia uma pasta Louis Vuitton. Não, não era imitação, que estas coisas cheiram-se à distância. Tal como o som dos saltos de uns Manolo, são inconfundíveis e irrepetíveis. O empregado, solícito, aponta o pedido e vai embora.

Eu levanto-me por instantes para ir ao carro buscar outra caneta, que a minha tinha dado o último suspiro depois de bons leais serviços. Quando volto, ouço-as reclamar que a clientela está a deixar muito a desejar. Olho em volta e apenas duas mesas estão ocupadas: a minha e a delas, e cá para nós, não tenho a mania da perseguição, mas acho que estavam a falar de mim.

Eu olho para elas, para o Audi, e depois olho tristemente para o meu pobre Popicas, para a minha roupa simples, para o casaco de cabedal gasto e coçado. Estava quase a sentir-me infeliz quando o empregado chega com o pedido: bolos e imperiais para todas.

Então olhei para os livros que tinha em cima da mesa, para o caderno Windsor & Newton, e acabei por sorrir, auto-estima renovada: podemos tirar as pessoas do campo, mas nunca o campo das pessoas.

1 Comments:

Blogger PPN said...

Ah umas bifanas com chá!!!
Ora ora, também algures por Telheiras...

Uma Santa Páscoa

11:26 da manhã  

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