terça-feira, março 09, 2010

Hopeless

Olho para ti, caído na apatia e na tristeza, e sinto-me impotente. Pior, impotente e culpada. Perdeste tudo, quando apenas querias uma coisa. E de tudo o que se pode recuperar, não sabemos se recuperarás o mais importante.
Pedi, durante anos, para nunca entrar aqui dentro para visitar um familiar ou amigo, e Deus não me deu essa ventura. E agora vejo-te aqui, e o meu coração nem tem espaço para raiva ou ódio, só tristeza. Lembro-me do teu sorriso, da tua alegria, do teu jeito tresloucado de bon vivant, lembro-me como brincávamos contigo e dizíamos que eras como o Dorian Gray e não envelhecias. E agora vejo-te deitado nesta cama, numa velhice que te derrubou em poucos dias, o cabelo grisalho, a barba completamente branca, o olhar vago.
Sei que o teu coração não quer acreditar, e a tua razão bloqueia e recusa-se a aceitar. O meu coração também não quer acreditar, mas a minha razão mostra-me o inegável, e fico apenas aqui, a olhar para ti, ainda sem conseguir entender porquê um castigo tão grande a um homem tão bom.
Olhas para mim, e dás-me uma pequena amostra do que foi o teu sorriso, um dia. Eu sorrio de volta, apesar de os meus olhos me traírem, eu sei, sinto-os cheios de lágrimas. Estendes a mão e pegas na minha, e eu sei que me reconheces, mas não falo, não quero que te assustes, e que te cales de vez. Apenas olhas, como quem ganha balanço para um pergunta difícil, daquelas que custa a encontrar as palavras certas. Murmuras, e eu não entendo, e debruço-me sobre ti.
“Quando é que ela chega?”
Preferia nunca o ter feito, porque ditaste sozinho a tua sentença. Respiro fundo para não te bater, não te abanar, não te gritar, e consigo. Faço-te uma festa no cabelo, e sinto as lágrimas correrem pela minha cara, e tu repetes a pergunta. Quebro as regras que segui durante anos, abraço-te e digo a única coisa que nunca quis dizer a alguém que amasse, mas que sei que é a única coisa que te devo dizer agora. Uma mentira piedosa.
“Ela já vem.”
Sorri, o teu olhar ganha uma luz de esperança, e pedes-me o computador. Eu pego no pequeno NetBook e dou-to para as mãos, e tu pões a tocar a vossa música em repeat mode, e escreves, escreves horas a fio, e apenas olho para ti, e deixo cair as lágrimas. Preferia ver-te caído em ódio, do que nessa esperança vã, enquanto repetes a ladainha “ela já vem, ela já vem”… Lembro-me de uma noite de copos, que disseste que só casarias com a mulher certa, e que ela andava por aí, só não a tinhas encontrado ainda, e o Miguel disse, meio a brincar meio a sério, aquele que seria um vaticínio: a pensares assim ainda vais acabar mal. Quem me dera ele nunca o tivesse dito, e choro, consumida por tristeza, pena, raiva, ódio, e saudade.
Saudade de quem foste e nunca tornarás a ser. Porque mesmo que melhores nunca mais serás o mesmo.