A Carta de Argemiro
"Ainda estava na barriga da minha mãe quando ouvi a voz dele. Uma voz forte e decidida, que me queria levar para perto de si. Aquela voz mudou a minha vida para sempre.
Nasci no dia 12 de Junho. Nasci muito pequenino, mas saudável, e fiquei dois dias no hospital. Nesses dois dias eu ouvi a voz decidida muito calma e meiga. A voz que me arrancou do orfanato, que era o meu destino certo, e me levou num colo quentinho até uma casa bonita, com mais meninos bem mais crescidos que eu, cheia de flores e de luz. Quando for grande, vou saber dizer que esta casa cheira a madeira e a livros, a pão quente e a maçãs, e esse é o cheiro que eu vou reconhecer como a minha casa. Mas na minha casa vai pairar sempre o cheiro do meu pai, o dono da voz que, cheia de bondade, me aceitou sem eu ser dele, e que eu agarrei o dedo quando ele me pegou ao colo pela primeira vez.
O meu pai chamou-me Argemiro, nome estranho aos meus ouvidos pequenos e a muitos ouvidos grandes, mas sou Argemiro porque era o nome do avô dele, porque é um nome que ele gosta, porque quando me embala não canta, mas conta histórias de um grande guerreiro que tinha o mesmo nome que eu.
A minha casa será sempre onde ele estiver, onde eu conseguir sentir o cheiro das maçãs e do pão quente, das madeiras envernizadas e dos livros antigos, mas principalmente onde eu sentir o cheiro do meu pai, que cheira a cachimbo, a baunilha e a madressilva, as flores da trepadeira que há na janela do quarto dele, que me segura apesar de eu não ser filho dele, que me dá colo e mimos e um dia irá ensinar-me o que é certo e errado, a quem eu vou trazer desenhos da escola e ele irá pendurá-los do escritório mesmo que não sejam bonitos.
Ouço toda a gente dizer que me saiu a lotaria porque o meu pai é rico e nunca me há-de faltar nada. Eu não sei o que é a lotaria, mas deve ser uma coisa boa. Não sei o que é ser rico, mas sei que tenho muita sorte por o meu pai me ter escolhido e me ter trazido para casa, porque quando me pega ao colo eu sinto que ele gosta de mim como eu gosto dele.
Isto era o que eu gostava de dizer ao meu pai, mas ainda sou muito pequeno, apesar do nome grande. Mas quando crescer vou-lhe dizer que é o pai mais bonito do mundo, e que quando for grande, mesmo que não possa ser parecido com ele, quero ser como ele."
Para o meu novo afilhado Argemiro, e para o pai dele... um beijo grande para os dois.
5 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
Parabéns ao pai por um filho tão bonito, que sejas tão atencioso e dedicado como pareces pela tua bondade e coração
Fiquei mais de uma hora a ler e reler este texto... está lindo, lindo, lindo, e não tenho palavras para agradecer tudo o que tens feito por mim e pelos miúdos... e que prometeste fazer agora pelo Argemiro. Sei que ao meu filho nunca lhe há-de faltar uma figura materna, uma mãe que lhe sorri como se ele fosse dele, porque tu estás sempre do meu lado... Porque tal como tu sempre dizes, mãe e pai não é quem faz, é quem cria, quem estás ao pé quando estamos doentes, nos dão o pão, a educação, o carinho. És a melhor madrinha que eu podia escolher, e sei que o Argemiro nunca há-de sentir a falta da mãe que o quis abandonar porque tu vais estar sempre do meu lado.
Como sempre estivemos e vamos estar.
Um beijo de quem te adora e ama incondicionalmente ( és a melhor amiga que tenho, you betcha! )
Miguel
ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
pois
eu sabia! o dia que vocês od dois se apanhassem com um puto chamavam-lhe argemiro LOL
o miúdo é lindo. a madrinha também. o pai é que é um bocado rasca, mas enfim...
Maurício
lindo texto, e tenho de concordar com o maurício... :D
love you M.
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