domingo, maio 16, 2010

Tenho a certeza que não sei dançar.

Alguns dos inúmeros* seguidores e atentos leitores do meu blog têm colocado uma pergunta bastante pertinente: como é que é possível eu ainda não ter colocado um post sobre o programa da SIC "Achas Que Sabes Dançar?"?!

A resposta é simples. Eu não percebo absolutamente nada de dança. De bailarinos, bem, aí ainda posso dar um jeitinho, mas de dança, nicles batatóides, ipso factum paralelipípedo. Ao contrário do "Ídolos", ou até mesmo da "Operação Triunfo", onde eu sempre posso dar um ar da minha graça, ou melhor, da minha qualidade auditiva, aqui fico muito caladinha.

Naturalmente vejo, e até aprecio o programa. E gosto de ver. E até confesso, é bastante agradável apenas ver, e não ter a noção se o júri escolheu bem ou escolheu mal. E não tenho simpatias senão para com o júri. Senão vejamos.

O Miguel Quintão é um das vozes mais conhecidas e ouvidas deste país; com jeitinho, se deixar crescer o bigode pode passar à frente do António Sala. Com a diferença que eu simpatizo imenso com o Miguel e não tenho medo dele, ao contrário do temor que o António Sala me inspira.** Mas adiante. O Miguel é da rádio, e naturalmente muita gente já se interrogou o que é que ele está ali a fazer. Não percebo porque não. O Manuel Moura dos Santos também andou a dizer a muita gente que não cantavam puto, e estamos a falar de um homem que não consegue falar sem parecer que nos quer cortar às postas com uma rebarbadora***. Cá para mim, o Miguel há-de perceber alguma coisa da horta, nem que seja a avaliar o potencial "pó de estrelas", mas naturalmente, todos, ou pelo menos os que são chumbados e restante tribo familiar duvidam das capacidades deste membro do júri. Eu cá não duvido. Lá está, não percebo nada da horta.

Logo ao lado, com um ar tão amoroso que chega a dar nervos a misantropos como eu, a Marina Grangioia ( espero ter escrito bem o nome... ). Bailarina, coreógrafa, professora, querem mais?! Para ser sincera o nome dela não fez o famoso ring the bell, mas o que a televisão tem de positivo é que, a partir de agora, esse sininho vai tocar quando ouvir semelhante nome. E gostava de a ver dançar. Nem que fosse num videozito do YouTube. Gosto de ver profissionais em acção, especialmente em artes e áreas que não domino.****

Por fim, temos o César Augusto Moniz, brilhante bailarino e coreógrafo. Isto digo eu. A cara e o nome, liguei-os de imediato à Gulbenkian, e o meu estranho cérebro, que como vocês sabem, está cheio de informação inútil, vagueou de imediato para a noite em que fui assistir a um bailado na Gulbenkian com o tema "500 anos da Descoberta do Brasil". E quando me lembro disto, a primeira coisa que me vem à memória é um dos bailarinos, vestido de mergulhador e com umas enormes barbatanas nos pés, que TRÁS! TRÁS! TRÁS! atravessou o palco.

Ainda hoje interrogo-me o que raio representaria aquilo.Se alguém souber, por favor envie-me um mail, uma mensagem no Facebook, um pombo correio, um telegrama cantado, qualquer coisa. Agradecida.

E isto tudo para dizer que há três coisas que aprecio muito neste júri. Primeiro, sabem dispensar os cromos sem serem rudes. Segundo, pelo menos dois terços do júri já teve 16 anos, sapatilhas nos pés, nervos à flor da pele em cima de um palco e o coração cheio de sonhos. E por fim, esses mesmos dois terços são emotivos, humanos. Creio que foi o César Augusto Moniz que disse: somos humanos, não somos máquinas, numa dada altura em que a Marina Grangioia começou a chorar. Eles sabem o que custa ouvir um não, quando se tenta fazer aquilo que mais se ama. Senão, vejam o vídeo que eu fui delicadamente roubar ao YouTube. E depois, o fio da balança que não se emociona, e estoicamente equilibra a mesa, o outro terço que dá sempre jeito que mantenha a calma e a caixa de Kleenex a postos.

Gosto do programa, e parece-me que agora, com os vinte finalistas escolhidos é que vai passar a ser mesmo giro. Espero que a SIC faça mais edições. Se tivemos de levar com três edições do "Ídolos" com o Manuel Moura dos Santos e duas com o suplemento Luís Jardim, podemos muito bem ter mais edições do "Achas Que Sabes Dançar?" Nem que seja para dar uma oportunidade numa área das artes onde é tão difícil vingar. Já chega de cantorias e palermices.

A menina dança, descansa ou tem par? Não, sou coxa!



* Inúmeros porque, na realidade, eu chumbei a Matemática e não sei contar.

** Não envelhece, o que para mim quer dizer que está conservado em formol, ou tem um pacto com a Lili Caneças. Ou as duas coisas. Às vezes tenho pesadelos em que ele corre atrás de mim com uma pandeireta a cantar o "Kumbaya".

*** Não é má vontade. Já tive o desprazer de trocar palavras com ele. Pessoalmente.

**** Ainda hoje tenho um tremendo fascínio pela destreza da minha mãe a fazer tricot. Palavra de honra.