segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Miúdos e Graúdos

Permitam que partilhe convosco três episódios que me deixam, no mínimo, apreensiva com os homens e mulheres de amanhã.

Episódio 1:

Tentando armar-me em boa pessoa ( algo que não sou por natureza ) e arranjar um brinquedo engraçado e pedagógico para um "sobrinho emprestado" que tem 5 anos, lá fui eu em busca de um pião. Foi difícil, mas lá encontrei o sacana do pião. Fui até à casa dos simpáticos progenitores e, com gestos de prestigiadora, ofereci o brinquedo ao petiz, que franziu o cenho, sem entender.
Enchendo-me de paciência com esta juventude, e não desfazendo era uma ás do pião, dava cada voltareio que dava abada a muito rapazinho com pouco jeito para a coisa, lá lhe mostrei como se enrolava a corda, e se atirava fazendo girar, apanhar com jeito se deixava rodopiar na mão. Ele olhou, meio desiludido, deu-me um beijinho e agradeceu. Guardou o pião e foi jogar Playstation.

Análise:

As crianças de hoje em dia não sabem brincar. Logo, não são crianças.

Plano de Acção:

Tenho de comprar um pião para mim.


Episódio 2:

Fui fazer tempo na FNAC, passe a publicidade, e fui espreitar a secção de livros infantis. Uma menina pegou num livro que reconheci de imediato, e foi a correr ter com a mãe.
- Mãe, compras mãe? É tão giro mãe, compras?
- Não, que o livro é caro.
- Oh mãe, mas é tão giro mãe, compras?
- Não, já te disse que não! Os livros são muito caros, não vou gastar dinheiro nisso! Vai lá pôr essa porcaria no sítio!
A menina obedeceu, mas ficou com o olhar preso no livro, com o ar mais infeliz do mundo. A progenitora, subindo-lhe o instinto maternal à traqueia, pegou na mão e disse:
- Vá, anda lá ali aos jogos, que a mãe leva-te um jogo para a Playstation.

Análise:

Estamos a estupidificar as crianças.

Plano de Acção:

Fazer uma nota mental e começar a oferecer livros às crianças ao meu redor. Já agora levá-los ao teatro, a museus e a exposições. Vou gastar uma pipa de massa, mas é pelo bem da nação.


Episódio 3:

Na mesma loja, e apenas 10 minutos depois... sim, podiam ter tido um pouco de pena de mim, mas catrapimba. Dizia eu? Ah, sim, 10 minutos depois, na mesma loja, fui esperitar os headphones, que os meus estão a pedir reforma antecipada por invalidez. Olhava eu impávida e serena para um prateleira repleta de tralha quando, junto às bancadas onde estão expostos IPods, MP3, MP4, MP78906 e afins deparo-me com este triste episódio em mãe com ar bimbo e filho de 15 anos com um ar mais gay que um preservativo cor-de-rosa com Kitty's estampadas.
- Olha, é este que eu quero. - diz o rapaz, pegando num IPod Nano Roxo.
- Roxo?!
- Sim, roxo, eu gosto de roxo. Vês, 189 euros. Leva-me este.
- Mas há ali mais barato...
- Não, quero um com visor.
- Sim, há ali com visor também.
- Não, quero este, leva-me este agora.
- Agora não tenho dinheiro para isso.
- ESTÚPIDA! ( voa o IPod, sónão voa mais porque está preso à bancada ).

Análise:

Se eu, nalgum momento pouco iluminado da minha vida, tivesse este diálogo com a minha mãe, primeiro, ela teria rebolado no chão a rir; em seguida levantava-se e dava-me um valente borracho no focinho que eu ia buscar os dentes a Santa Comba Dão. Depois, levava com o IPod no meio dos cornos, e naturalmente, não levava nada, nem uma telefonia da loja do chinês. NUNCA, mas mesmo NUNCA na minha vida, eu teria margem de manobra para tudo isto.

Plano de Acção:

Vou começar a distribuir calduços pelos adolescentes que conheço. E bofetadas aos pais.





Concusão:

Tenham medo. Muito medo. Estes são os homens e mulheres de amanhã.