quinta-feira, maio 22, 2008

A eternidade é o lado bom da saudade


Os homens acabam sempre por se revelar maus se a necessidade não os obriga a ser bons, disse Maquiavel n' "O Príncipe". Se isto é uma regra, e toda a regra tem excepção, eu orgulho-me dizer que conheci a excepção desta regra.

Um dia conheci um homem bom e atencioso com toda a gente, despojado de si mesmo. Um anjo na terra. Porém a terra não aguenta a perfeição.

Ainda hoje, passados dois anos, sinto a presença dele perto de mim. É a primeira pessoa que me lembro quando acordo, a última em quem penso quando me deito. A voz que oiço na minha cabeça é a sua voz meiga e bonita.

Um dia, ele disse-me uma coisa que eu nunca haveria de esquecer: quando alguém que nós gostamos muito desaparece, podemos sentir o seu calor no fogo da lareira, ouvir a sua voz no murmúrio das ondas, o riso no vento, sentir o seu cheiro na terra molhada, sentir o toque das suas mãos na chuva que fustiga o nosso rosto, ver o seu olhar reflectido em todas as águas. Quando há noites de luar, eles podem ver-nos do céu, e em noites de lua nova podemos ver o seu sorriso nas estrelas.

Há dois anos que vejo o teu olhar em todas as águas. Sinto o teu abraço na chuva e no calor da lareira, ouço o teu riso no vento. E em todas as noites de lua nova, espreito para o céu e vejo o teu sorriso nas estrelas.

Tu chamavas-me estrela da tarde, mas tu sim, tu eras um guia para todos quantos te conheciam. Tu que não hesitavas em estender a mão fosse a quem fosse. Davas mais valor à causa pela qual lutavas do que à tua própria vida, e isso levou-te. Por isso todos nos reunimos no dia do aniversário da tua morte e celebramos a tua vida, que é, sim, digna de ser celebrada. Os dez juntam-se em tua homenagem, e lembramos-te como tu gostavas de viver: em festa. Tenho-te gratidão por tanta coisa, mas sobretudo por teres sido meu amigo.

Tu que és e serás para sempre a minha Estrela Vespertina.


Para o Zé Augusto. I know you're watching over me.