segunda-feira, setembro 25, 2006

Mentor

Ontem reencontrei uma velha paixão. Não, não foi nenhum ex-namorado. Ontem olhei para a prateleira dos CD’s cá de casa e reencontrei a minha colecção do meu cantor favorito.

A vida vai-nos pregando partidas, e não sei bem porquê já há muito tempo que os CD’s não saíam do seu bonito lugar. Lá estavam eles, a espreitar. A colecção inteirinha. E eu sorri e voltei a colocá-los no leitor, a deixar a música escorrer pelas paredes da casa e entrar de mansinho no meu coração.

Sempre foi o único cantor com esse poder. Lembro-me de ser miúda ( ah pois, agora estou muito velha… ) e os meus amigos torcerem o nariz ao meu gosto musical. E eu preocupada, ora essa. Aliás, sempre foi uma boa maneira de ver quem realmente era meu amigo. Quem era sorria e dizia que só mesmo eu para no auge dos 14 anos ouvir Luís Represas, em vez de Backstreet Boys ( brrrr… assustador… ) era mesmo meu amigo.

Apaixonei-me pela música dele num concerto em Quiaios. Vá, tudo a ir ao mapa… um bocadinho acima da Figueira da Foz… boa! Onde é que eu ia? Ah sim, o concerto de Quiaios. Agosto, 1997 ou 1998, parece-me, noite na praia… e um frio horrível, que nos obrigou a vestir tudo o que tínhamos e a pôr as toalhas de praia pelos ombros, e mesmo assim o queixo tremia. Mas quando ele entrou no palco e a música se espalhou, o frio passou e eu fiquei fascinada. A paixão pela sua música dura até hoje, e sei que vai durar muitos anos.

Foi com a música dele que aprendi a doçura das palavras nas melodias, foi a voz dele que educou a minha, foi com as suas canções que comecei, teimosamente, a aprender a tocar guitarra.

É o artista mais completo que existe. O melhor, e único. Não liga às modas, e no entanto reinventa-se e melhora sempre, com uma música tão cheia de magia que será eterna.

Obrigada, Luís Represas.

Catarina Faustino











quarta-feira, setembro 20, 2006

Força


Estranho.

Muito estranho, entrar em São Domingos, onde sempre me senti em casa porque tu assim o fazias, e não ouvir o teu riso, não ver a tua cara prazenteira, não te ouvir dizer "Rapariga, larga os gatos!"
Muito estranho, o baque que senti ao ler o e-mail da sempre vigilante Cris, onde fiquei a saber do teu estado de saúde.

Muita tristeza, mas apesar de tudo muita esperança, ao ver tantos reunidos a rezar pelas tuas melhoras, numa cerimónia de uma beleza imensa, preparada com um cuidado e carinho sem fim. É verdade que rezávamos por todos os doentes. Mas no coração e no pensamento de todos estava apenas um nome: o teu.
Não somos amigos chegados é certo ( apesar de já termos dormido no mesmo quarto e eu ter ficado a saber que ressonas como uma betoneira! ), mas sempre nutri um grande carinho por ti, pela tua vivacidade, alegria, vontade férrea de ver as coisas acontecerem.

És daquelas pessoas que já vão sendo raras, que marcam quem as conhece. O carinho que sinto por ti multiplica-se para além de mim e estende-se até muito longe, a muitas outras pessoas. E a prova foi o que se viveu nesta noite que nunca esquecerei, esta noite em que eu vi as lágrimas dos teus amigos, a voz trémula da tua mãe que agradeceu a todos. A noite em que eu senti uma tristeza imensa, não só por estares doente, mas por saber bem o sofrimento que todos sentiam. Todos que ali estavam crêem numa Vontade maior, mas ergueram a voz e apresentaram sem medos e vergonhas um pedido ao Pai: que desta vez não cumprisse a Sua vontade e te entregasse, são e salvo, numa prece de esperança além de qualquer força, por muitos somos unos.
Juntei-me à prece, sim. Porque como tantos outros, eu sei que és único, e fazes muita falta ainda. Vi-o na cara dos teus amigos. E afinal, quem mais irá dizer-me "Rapariga, larga os gatos!"?

Com um grande beijinho para o Miguel Romão Machado

segunda-feira, setembro 18, 2006

Listen carefully...


"God whispers to us in our pleasures, speaks in our conscience, but shouts in our pains; it is His megaphone to rouse a deaf world."


C. S. Lewis

Fénix


Disse um dia Henri Montherland: pode ferir-se o amor-próprio; matá-lo, nunca.

Já passaram alguns meses, a dor já diminuiu, a tristeza ainda aqui mora, e acorda de quando em quando. Optei por não te eliminar da minha memória nem da minha vida; ao contrário de ti, eu não esqueço nem apago as pessoas para tornar tudo mais fácil. No entanto, agora olho para ti e apenas tenho pena. Pena porque não construíste nada, como tantas vezes me dizias, porque fechaste a porta a uma pessoa que te queria bem de verdade. Não digo que eu fosse a única, muito pelo contrário. Mas era uma.

Não guardo qualquer rancor. Apenas tenho pena de ti. Eu agora olho para mim, com objectivos traçados, alguns cumpridos, alguns falhados, e sou feliz. E tu nada tens, ou o que tens não é o queres e não te chega.

Feriste o meu amor-próprio, mas não o mataste. Nem nunca conseguirias. Não por mim, mas porque houve pessoas, que, mais sensatas que eu, viam a feira de vaidades e interesses que tu eras, esperaram em silêncio, e pacientemente me ajudaram a erguer quando deste o golpe.

Disse-te um dia que uma das melhores coisas que me tinha acontecido fora ter-te conhecido. Pois hoje em dia digo-te, honestamente. Foi, sem dúvida, uma das melhores coisas que me aconteceu, sim, teres entrado na minha vida. Mas melhor ainda foi teres saído.

Deus te abençoe, libertaste-me. Agora posso ser eu mesma e viver a minha vida.