quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Partilha

Passada a Quarta Feira de Cinzas, venho, naturalmente, com a cabeça cheia de cinza, mas desta feita do lado de fora. O meu pároco é de extrema generosidade comigo até na cinza, por isso fui mais enfeitada que uma travessa de arroz doce. Enfim, adiante.

Hoje não venho reclamar. Venho pegar, sim, na fragilidade da vida que é invocada neste dia, e celebrar a minha família e amigos, já que nesta jornada devemos relembrar a importância que aqueles que nos rodeiam têm para nós. Depois de alguns mails e SMS, deixo aqui o último, uma "partilha": mais uma pequena obra de uma grande amigo.


Para alguns poderá ser o Pedro, para outros o Dr. Nóbrega. Para mim será sempre o Pina.

Um grande abraço e um enorme beijinho ao traquinas que continua a encher de orgulho todos quantos o conhecem. Que nesta caminhada nos lembremos sempre de quem nos quer bem e a quem nós desejamos também tudo de bom, e apesar da vida ser tão frágil e fugaz, o que de melhor levamos são os momentos com pessoas como tu.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Selo de Qualidade

Viram a mini-série sobre o Salazar? Eu vi. Controlei o asco e vi. E devo dizer que fiquei surpreendida. Durante décadas todos os portugueses viveram com uma imagem do dito cujo, e não é que agora descobrimos que o homem era, afinal, humano?! Que tinha dores de dentes e de barriga, ia à casa de banho e teve unhas encravadas, e também fazia sexo?!
Mais uma vez concluí que as produções nacionais são uma tristeza. Vi excelente actores a fazer uma triste figura porque o realizador não dá para mais. Mas é recorrente. A coisa que mais me entristece é ver os actores de água e açúcar a fazerem figuras de parvos, e ao seu lado, grande senhores e senhores a fazerem figuras de parvos.

Há pouco tempo atrás decidi dar uma hipótese à ficção nacional e sentei-me a ver o Equador, apesar de não ter gostado do livro. Naturalmente, arrependi-me ao fim de dois minutos. Primeiro, dou de caras com a Maria João Bastos com o cabelo cor-de-cordel a interpretar uma inglesa. E depois, ó senhores, aparece o Marco d'Almeida a espremer-se para imitar o sotaque inglês. Sabem o que é que ele me fez lembrar? O "Allô Allô". Quando os franceses e os alemães queria disfarçar-se de ingleses, punham um cachimbo na boca e faziam: "Fon fon fon fon! Fon!fon!" Eh pá, tal e qual. Deve ter sido a fonte de inspiração do pequenito. Também, o que se podiam esperar de uma produção que foi filmar para a Rua Garrett no Chiado e queria tapar a Bertrand?! É de salientar que a acção está cronologicamente situada no fim do século XIX, e a Bertrand já lá estava à 100 anos.

No entanto, nem tudo é mau. Tiro o meu chapéu à RTP pela série "Conta-me Como Foi". A exactidão é impressionante, até nas coisas mais simples, como os maços de tabaco. E mostra que, com cuidado, carinho, empenho, e muito humor, se pode fazer uma excelente série.

Até hoje, àparte desta última de que falei, só vi estas grandes produções: "Os Távora", "Bocage", "A Ferreirinha" e a grande campeã de sempre, "A Raia dos Medos".

São todos RTP. Não é um padrão. É um selo de qualidade.

Àparte II

Vinha hoje no Correio da Manhã:

"Empregada da Escola blá blá blá sofreu ontem queimaduras de segundo grau quando deixou cair uma panela de sopa a ferver."

E eu que pensava que uma notícia era quando um homem mordia um cão.

domingo, fevereiro 15, 2009

Àparte I

Hummmm, é verdade, o chocolate com chilli é MESMO afrodisíaco...

Romantismo II

Toda a gente sabe que, na arte da sedução, os homens podem ser mestres, mas as mulheres escreveram o livro por onde se estuda. A lingerie, a roupa justa nos sítios certos, o perfume, o cabelo, a maquilhagem e os saltos altos, a postura e o jogo, são artes exclusivamente femininas. Os homens gostam de se sentir apanhados, e nós gostamos de os apanhar.

Mas quando estamos em casa, com um pijama do Snoopy e pantufas que são verdadeiros peluches, cabelo de quem acabou de sair do banho, cara lava e sem maquilhagem, e o mancebo do nosso afecto olha para nós com a expressão de predador e perguntam: estás a seduzir-me?

Bem, se isso não é arte...

Romantismo I

Cheguei um bocadinho tarde, mas cá está o post de S. Valentim. Este dia é tenebroso. E antes que comece o apedrejamento, e o fatídico "ah e tal, dizes isso porque não tens namorado", podem parar por aí. Eu nunca gostei do dia dos Namorados, com apêndice ou sem apêndice.
Acho uma pieguice, um romantismo foleiro de trazer por casa. Para onde quer que nos viremos, há ursinhos, e cãezinhos, e coelhinhos, e ornitorrincozinhos de peluche com airosos dizeres: "I Love You", You're My #1", e por aí fora. Que me perdoem os fãs deste dia, mas isto ultrapassa o piroso comum. Não sou uma pessoa romântica, ou melhor, não sou a romântica esteriotipada. Nunca recebi nenhum ursinho-peludinho-e-fofinho-a-largar-gosma-de-tão-amorosinho-que-é. E ainda bem, porque o ursinho teria voado pela janela, seguido, naturalmente, pelo bem intencionado rapaz.

Além disso, não percebo a necessidade de importar um santo pinga-amor italiano, quando temos um santo casamenteiro portuguesinho. Para quê um São Valentim, quando podemos usar a prata da casa e celebrar o dia dos Namorados no dia de Santo António? Se se derem ao trabalho de ler a história de São Valentim, vão reparar que é tão pirosa quanto o dia. Não só era um gajo desobediente, como ainda por cima foi preso, pôs uma ceguinha a ver, atirou-se a ela que nem um leão apesar de ser padre, e acabou por ser decapitado para não andar armado em parvo. Ora, isto é uma autêntica novela mexicana. O nosso Santo Antoninho quebrava as bilhas às raparigas, mas pelo menos remendava-as, e arranjava-lhes marido catita. Já lá cantava a Maria da Graça n'"O Pátio das Cantigas":

"Esse negócio de "I love you",
De "mon amour", de "Paris, je t'aime"
É só conversa para estrangeiro
e não fica bem para o bom brasileiro.
É bem melhor, é muito mais bonito,
Quando se vê um rapagão aflito
Dizer baixinho junto da pessoa
"Você, morena, é um bocado boa!"

Certa vez disse a um moço da minha afeição para não me dar prenda de dia dos Namorados; ele que me desse um manjerico no Santo António, com quadra a condizer. E ele cumpriu. Manjerico com o cravo de banda, e um papelinho que ainda tenho:

"A Santo António pedi moça
Bonita p'ra namorar.
Logo me calhou uma arisca,
Mas com ela quero casar."

Bem mais original que uma almofada em forma de coração a dizer "#1 Girlfriend".

E cá para nós... bem mais romântico.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Momento Sir David Attenborough

Enquanto escrevia o post anterior, a minha mãe estava sentada ao pé de mim, em silêncio, a ver o National Geographic. A dado ponto, lê a seguinte frase em voz alta:
- A língua da baleia azul é do tamanho de um elefante.
Eu paro de escrever.
- Ouviste?
- Ouvi, ouvi... NÃO CONSIGO É IMAGINAR!

Momento de nostalgia

Perdoem por bater na mesma tecla, mas isto é mais um desabafo do que um post. Estando eu em contacto com muitas crianças, pré-adolescente e adolescentes ( para mal de todos os meus pecados ), constato que, se perguntarem a uma criança ou a um adolescente o que quer ser quando crescer, 80% das respostas irão ser, invariavelmente, futebolista, modelo, ou simplesmente artista, como me respondeu uma menina.

- Está bem, mas artista de quê? Cantora, actriz...
- Sei lá, uma coisa qualquer, quero aparecer na televisão.

Enfim, o irmão da dita cuja tem 5 anos e quer ser modelo e ser rico, segundo o mesmo. E eu olho para estes dois exemplos que vos dou ( asseguro que conheço muitos mais ) e lembro-me com ternura dos meus colegas e amigos de escola e brincadeira. Lembro-me da Cláudia, que queria ser médica, do António, que queria ser bombeiro. Da Fernanda que queria ser polícia, e do Bruno que queria ser carpinteiro. O Jorge queria ser actor, o Paulo tratador de cavalos, o Zé Pedro pasteleiro, a Vera sonhava em ser bailarina, eu queria ser escritora e o Gonçalo queria ser o melhor violinista de sempre, a Leonor queria ser da Marinha e o Quim era a promessa do futebol.

Alguns mantiveram-se fiéis ao seu sonho, outros encontraram outros talentos e alentos. O que é certo é que é a vós, meus amigos e companheiros de escola, que ainda brincámos na rua, que nos lembramos do mundo sem computador em casa, PlayStation e telemovéis, que dedico este post.

Nós que pertencemos à última geração a brincar na rua até as mães virem chamar. Não tinhamos Internet ultra rápida, nem computador tão pouco; isso foi mais tarde, já madraços crescidos. Mp3 não havia, e PSP era só a bófia. O jogo portátil que tínhamos era o Tetris, e claro, os berlindes. O melhor veículo do mundo era o carrinho de rolamentos, e na nossa geração quem não tem cicatrizes na cabeça não é gente. A única preocupação que tivemos com marcas foram os ténis All Star, e quanto mais nojentos e rotos melhor; aliás, gente com roupas bonitinhas e de marca eram betos à margem da sociedade. Compravamos a Bravo em alemão porque não havia outra, e ter um discman era um luxo que poucos tinham.

Podíamos não ter tanto, mas pelo menos tínhamos mais imaginação.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Miúdos e Graúdos

Permitam que partilhe convosco três episódios que me deixam, no mínimo, apreensiva com os homens e mulheres de amanhã.

Episódio 1:

Tentando armar-me em boa pessoa ( algo que não sou por natureza ) e arranjar um brinquedo engraçado e pedagógico para um "sobrinho emprestado" que tem 5 anos, lá fui eu em busca de um pião. Foi difícil, mas lá encontrei o sacana do pião. Fui até à casa dos simpáticos progenitores e, com gestos de prestigiadora, ofereci o brinquedo ao petiz, que franziu o cenho, sem entender.
Enchendo-me de paciência com esta juventude, e não desfazendo era uma ás do pião, dava cada voltareio que dava abada a muito rapazinho com pouco jeito para a coisa, lá lhe mostrei como se enrolava a corda, e se atirava fazendo girar, apanhar com jeito se deixava rodopiar na mão. Ele olhou, meio desiludido, deu-me um beijinho e agradeceu. Guardou o pião e foi jogar Playstation.

Análise:

As crianças de hoje em dia não sabem brincar. Logo, não são crianças.

Plano de Acção:

Tenho de comprar um pião para mim.


Episódio 2:

Fui fazer tempo na FNAC, passe a publicidade, e fui espreitar a secção de livros infantis. Uma menina pegou num livro que reconheci de imediato, e foi a correr ter com a mãe.
- Mãe, compras mãe? É tão giro mãe, compras?
- Não, que o livro é caro.
- Oh mãe, mas é tão giro mãe, compras?
- Não, já te disse que não! Os livros são muito caros, não vou gastar dinheiro nisso! Vai lá pôr essa porcaria no sítio!
A menina obedeceu, mas ficou com o olhar preso no livro, com o ar mais infeliz do mundo. A progenitora, subindo-lhe o instinto maternal à traqueia, pegou na mão e disse:
- Vá, anda lá ali aos jogos, que a mãe leva-te um jogo para a Playstation.

Análise:

Estamos a estupidificar as crianças.

Plano de Acção:

Fazer uma nota mental e começar a oferecer livros às crianças ao meu redor. Já agora levá-los ao teatro, a museus e a exposições. Vou gastar uma pipa de massa, mas é pelo bem da nação.


Episódio 3:

Na mesma loja, e apenas 10 minutos depois... sim, podiam ter tido um pouco de pena de mim, mas catrapimba. Dizia eu? Ah, sim, 10 minutos depois, na mesma loja, fui esperitar os headphones, que os meus estão a pedir reforma antecipada por invalidez. Olhava eu impávida e serena para um prateleira repleta de tralha quando, junto às bancadas onde estão expostos IPods, MP3, MP4, MP78906 e afins deparo-me com este triste episódio em mãe com ar bimbo e filho de 15 anos com um ar mais gay que um preservativo cor-de-rosa com Kitty's estampadas.
- Olha, é este que eu quero. - diz o rapaz, pegando num IPod Nano Roxo.
- Roxo?!
- Sim, roxo, eu gosto de roxo. Vês, 189 euros. Leva-me este.
- Mas há ali mais barato...
- Não, quero um com visor.
- Sim, há ali com visor também.
- Não, quero este, leva-me este agora.
- Agora não tenho dinheiro para isso.
- ESTÚPIDA! ( voa o IPod, sónão voa mais porque está preso à bancada ).

Análise:

Se eu, nalgum momento pouco iluminado da minha vida, tivesse este diálogo com a minha mãe, primeiro, ela teria rebolado no chão a rir; em seguida levantava-se e dava-me um valente borracho no focinho que eu ia buscar os dentes a Santa Comba Dão. Depois, levava com o IPod no meio dos cornos, e naturalmente, não levava nada, nem uma telefonia da loja do chinês. NUNCA, mas mesmo NUNCA na minha vida, eu teria margem de manobra para tudo isto.

Plano de Acção:

Vou começar a distribuir calduços pelos adolescentes que conheço. E bofetadas aos pais.





Concusão:

Tenham medo. Muito medo. Estes são os homens e mulheres de amanhã.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Olha agora sim!

Após o anúncio da bancarrota total da Islândia e do Equador, eis que não quando os analistas pegam na bola de cristal e fazem o vaticínio dos países que poderão declarar falência em grande estilo, a saber: Reino Unido, Irlanda, Letónia, Ucrânia e Nicarágua. Não sou letrada em economia e finanças, além daquelas de fazer o ordenado esticar, mas confesso que fiquei atónita com a presença do Reino Unido nesta lista. Ucrânia e Letónia? Longe vão os tempos da glanost, perestroika, mas 1991 não foi há tanto tempo assim, a cortina de ferro ainda se faz sentir nestes países, tal como a Irlanda, que desde 1922 que tenta andar sozinha. São países com enormes limitações. A Nicarágua é um mistério para mim, porque eu ignoro profundamente o continente americano. Mas o Reino Unido?! É caso para dizer "C'oa breca!"

No entanto suspirei de alívio ao não ver Portugal na lista, mas logo em seguida entendi, e enchi-me de orgulho. Quando todo o mundo ficava horrorizado com a crise e o desemprego, Portugal encolheu os ombros e perguntou pelo resultado do Benfica.

Somos um país instável, de altos e baixos. Começámos com um gajo que andou à porrada com a mãe porque queria ser rei à força. No Interregno e atirámos o Bispo de Lisboa do campanário da Sé e o amante da rainha pela janela. Restaurámos a independência e atirámos o secretário de estado pela janela ( é um padrão, aparentemente ). Fizemos um golpe de estado com dezenas de militares, e não só os tanques pararam nos sinais vermelhos como não disparamos um único tiro.

Já conhecemos a fome e a peste, catástrofes naturais, anarquia e guerra civil. Opressão e ocupação, tirania e ditadura. Temos crise desde que o país se lembra, desde que cada palmo de terra era conquistado e mantido pela força da espada, e resistimos a tudo. tudo por causa de uma palavra que só existe no nosso vocabulário, e em mais nenhuma língua. É uma palavra, uma forma de estar, e viver, de agir. Nem sempre é o melhor, mas que resulta, resulta. É por isso que nada quebra este país, pequeno porém grandioso, cheio de defeitos e virtudes. As grandes potências bem podiam aprender connosco.

Nós somos desenrascados.

domingo, fevereiro 01, 2009

Tatuagem


Faz hoje uma semana que fiz a minha tatuagem. Não doeu, levou dez minutos a fazer. E vai acompanhar-me para o resto da minha vida, a não ser que alguém me corte a mão esquerda.

Tatuei no pulso esquerdo Lc.12, 27, ou traduzindo, como pediu o Xô Nóbrega, São Lucas, Capítulo 12, Versículo 27, a saber:

"Olhai os lírios do campo, que não fiam nem tecem, e nem o rei Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles."

Tatuei este versículo no pulso esquerdo, a chamada e afamada mão do coração. Tatuei-o porque neste versículo está um enorme ensinamento. O despojamento de bens materiais inúteis, o darmos aos outros o que temos de melhor, a humildade e a simplicidade do ser.

Já podia ter colocado este post no blog, talvez a semana passada. Mas hoje ouvi o padre João dizer numa homilia curta, simples e bonita tudo isto que acabei de escrever. Eu ouvi-o, olhei para o pulso e sorri: foi a melhor tatuagem que podia ter feito.