sábado, junho 30, 2007

A Carta de Argemiro


"Ainda estava na barriga da minha mãe quando ouvi a voz dele. Uma voz forte e decidida, que me queria levar para perto de si. Aquela voz mudou a minha vida para sempre.
Nasci no dia 12 de Junho. Nasci muito pequenino, mas saudável, e fiquei dois dias no hospital. Nesses dois dias eu ouvi a voz decidida muito calma e meiga. A voz que me arrancou do orfanato, que era o meu destino certo, e me levou num colo quentinho até uma casa bonita, com mais meninos bem mais crescidos que eu, cheia de flores e de luz. Quando for grande, vou saber dizer que esta casa cheira a madeira e a livros, a pão quente e a maçãs, e esse é o cheiro que eu vou reconhecer como a minha casa. Mas na minha casa vai pairar sempre o cheiro do meu pai, o dono da voz que, cheia de bondade, me aceitou sem eu ser dele, e que eu agarrei o dedo quando ele me pegou ao colo pela primeira vez.
O meu pai chamou-me Argemiro, nome estranho aos meus ouvidos pequenos e a muitos ouvidos grandes, mas sou Argemiro porque era o nome do avô dele, porque é um nome que ele gosta, porque quando me embala não canta, mas conta histórias de um grande guerreiro que tinha o mesmo nome que eu.
A minha casa será sempre onde ele estiver, onde eu conseguir sentir o cheiro das maçãs e do pão quente, das madeiras envernizadas e dos livros antigos, mas principalmente onde eu sentir o cheiro do meu pai, que cheira a cachimbo, a baunilha e a madressilva, as flores da trepadeira que há na janela do quarto dele, que me segura apesar de eu não ser filho dele, que me dá colo e mimos e um dia irá ensinar-me o que é certo e errado, a quem eu vou trazer desenhos da escola e ele irá pendurá-los do escritório mesmo que não sejam bonitos.
Ouço toda a gente dizer que me saiu a lotaria porque o meu pai é rico e nunca me há-de faltar nada. Eu não sei o que é a lotaria, mas deve ser uma coisa boa. Não sei o que é ser rico, mas sei que tenho muita sorte por o meu pai me ter escolhido e me ter trazido para casa, porque quando me pega ao colo eu sinto que ele gosta de mim como eu gosto dele.
Isto era o que eu gostava de dizer ao meu pai, mas ainda sou muito pequeno, apesar do nome grande. Mas quando crescer vou-lhe dizer que é o pai mais bonito do mundo, e que quando for grande, mesmo que não possa ser parecido com ele, quero ser como ele."

Para o meu novo afilhado Argemiro, e para o pai dele... um beijo grande para os dois.

Evolução

O meu melhor amigo chama-se Miguel. Para mim, sempre foi apenas o Miguel, que vivia a vida sem se preocupar, só fazia o que gostava e o que lhe apetecia, era noctívago e dava os bons dias às quatro da tarde.
O Miguel era ( ou melhor, é ainda e será sempre ) pianista. Vem de uma família antiga e abastada, mas nunca ligou a nada disso, e durante vários anos conduziu um Fiat 127 cor de laranja a cair de podre.
O Miguel dava a cara, o corpo, a camisa e a vida a um amigo. Era reservado e desconfiado para quem não conhecia, mas os poucos amigos que tinha e tem ainda sabem a jóia que ele é. Viajou de um dia para o outro até Beirute para acompanhar aquele que era o seu grande companheiro até ao dia em que este morreu e lhe deixou quatro filhos em encargo adicional. Nunca estava cansado para ouvir mágoas ou ir para os copos.
Já não é o mesmo Miguel que conheci.
Conheci-o como um animal de festas, para quem a vida era uma farra, que não se comprometia com nada nem ninguém.
Num ano o Miguel passou a ser o homem da casa, tomou as rédeas do negócio de família do qual percebia pouco ou nada. Assumiu todas as responsabilidades que sempre negou.
Envelheceu dez anos em apenas um. Perdeu o ar de artista louco e ganhou o de homem responsável. Certo domingo respirou fundo, ajoelhou-se e tomou a responsabilidade de deixar de ser apenas Miguel, e passar a D. Miguel Luís de Mello, 15º Conde da Casa de Mello e Terras de Britiande.
Este Miguel acolheu um bebé acabado de nascer, deu-lhe o seu apelido, deu-lhe colo e um sorriso babado de pai, e diz cheio de orgulho “o meu filho”.
Já não é o mesmo Miguel que conhecia. Está maduro, forte, responsável. Mas continua generoso, doce, e afável, incansável e atento aos amigos. Amo-o e admiro-o ainda mais, e não por agora ser o Senhor Conde. Porque mudou, mas mudou para melhor, e no fundo continua o mesmo.

Adoro-te, admiro-te e amo-te do fundo do coração, meu querido... Grande passo, mas eu sei que és capaz. Tens tudo para ficar na história da tua família.

quinta-feira, junho 28, 2007

Hic!

Vivam as noites de cerveja, Martini, Carolands Mint e Trivial Pursuit!

Ahhhhhhhhh... Austríaco!

sexta-feira, junho 22, 2007

Metatarso

Ora a última novidade é que, aparentemente, parti o primeiro metatarso do pé esquerdo já há algum tempo e nunca dei conta... e o pobrezinho lá se curou sozinho o melhor que pôde, ficando rachado e um bocado torto. E pequenita fractura acordou agora com uma ligeira entorse.
Resumindo, estou a cair aos bocados. Nada que os meus amigos mais próximos não saibam.

Acho que tenho de dar mais atenção quando me dói alguma coisa.

É capaz de ser boa ideia.

sexta-feira, junho 15, 2007

O menino da madrinha

Quem me conhece e costuma dar uma espreitadela aqui ao blog, estranhou eu não ter colocado um post sobre o Santo António, ou qualquer coisa a dizer "A minha Carnide é linda!" E apesar de eu continuar a gostar da festa, e da minha marcha ser linda, este ano houve um negrume que cobriu a alegria dos Santos e da vida e deu lugar a uma tristeza infinita.
O meu afilhado chamava-se Guilherme. Tinha quase 14 meses, ou seja, já era um homem feito. Tinha caracóis louros e olhos azuis, um sorriso travesso e uma energia inesgotável. Já dizia mãe, pai, papa, popó e Babu, o nome que deu ao ursinho de pelúcia que lhe comprei no dia que nasceu. Para mim, guardava a palavra "tia", com um sorriso maroto, palavra arrancada a ferros para me contrariar.
O meu menino gostava de banana esmagada com sumo de laranja, de sopa de peixe, de dormir abraçado à cadela como se ela fosse uma almofada. Gostava de todos os brinquedos que tinha, mas só dormia com o pobre Babu.
O meu menino nunca chorava nem nunca fazia birras. Dormia à hora certa, cantarolando uma música que ele inventava para adormecer. Era capaz de estar horas esquecidas a puxar as orelhas à "Barracuda", que agora fareja a casa inteira e uiva, à procura daquele que também era o seu menino.
O meu menino não aguentou a febre escarlatina e as convulsões, e deixou-nos no 12 deste mês, já a tarde ia tarde, e o telefone tocou no bolso e eu ouvi do outro lado um pai desesperado.
Esta manhã despedimo-nos dele. Todos nós. Olhei para os pais, que se abraçavam e tentavam mitigar uma dor que nunca mais há-de desaparecer, porque aquele era o seu menino, um filho desejado e amado. Não consegui dizer nada, apenas os abracei, e sei que eles entenderam... nenhum pai devia enterrar um filho, e esta é uma dor que está para além da compreensão humana.
Olhei para tantos, e muitos olharam para mim e não tiveram coragem de me dirigir a palavra. Todos sabiam que o Guilherme era o meu menino, o menino da madrinha, e sabem que eu lido com a dor de forma muito pessoal. Olhei para o pequeno esquife branco e não quis acreditar que ali dentro estava o menino metade anjo, metade príncipe, abraçado ao seu fiel Babu, que o acompanhou desde o primeiro ao último dia. O meu pequenino que esticava os braços e se aninhava no meu colo, que gostava que eu cantasse e lhe contasse histórias, que as ouvia muito compenetrado, com os olhos inundados de uma sabedoria imensa. Naqueles olhos azuis cabia a sabedoria do mundo, e o mundo não aguenta a perfeição.
Deus tem agora no céu o anjo mais belo que alguma vez teve.
Metade princípe, metade anjo.

quinta-feira, junho 07, 2007

Pensamento do dia

Someone throw me out of the window. I'm too lazy to jump by myself.

terça-feira, junho 05, 2007

An Old Irish Blessing


May the road rise up to meet you.
May the wind always be at your back.
May the sun shine warm upon your face,
and rains fall soft upon your fields.
And until we meet again,
May God hold you in the palm of His hand.


This is the Old Irish Blessing. Since you've been born that I sing it to you everytime I hold you in my arms. You were born under a good star, and your Godfather will keep a good eye on you, I know it for sure. Saint Patrick always held His godsons in His hand, and gave them a good word on the Almighty...Half prince, half angel, may this blessing always be in your life.
May you grow and be a wise and compassionate man, hard working and perseverant. May you be strong and honored, may you be gentle and harsh when you need it too.
May you be a great man. I know you will... It's written in the stars.

To my godson.